Crítica: MC Carol lança “Bandida” para deixar sua marca por todo lugar



Aos poucos, MC Carol ganha mais espaço na mídia brasileira. Depois de participar do reality-show Lucky Ladies, da Fox Life, e mostrar sua personalidade, a funkeira caiu nas graças daqueles que não a conheciam e reforçou sua presença para os admiradores. De lá pra cá, a MC lançou algumas músicas inéditas e viu outras canções passadas retomarem espaço. Um dos casos foi de "Meu Namorado É Maior Otário", que virou hit na internet com seu clipe caseiro e letra sincera.

Todo esse contexto fez com que Bandida, um CD da cantora, ganhasse vida. À parte de ser um álbum somente com material novo, o registro traz duas releituras de algumas músicas lançadas anteriormente. Não foi dessa vez que recebemos algo totalmente inédito, mas talvez esse seja um bom esforço comercial que pode abrir portas tanto para Carolzona quanto para outros artistas, já que acompanha uma produção apurada.

Qualquer que seja o caso, o que vemos no CD é uma potência musical que resume MC Carol. A funkeira de Niterói está presente em toda parte. Ela canta sobre o que conhece, expressa sua marca e ainda nos mostra repetidamente a cultura sonora e sócio-política que possui. Vemos isso logo na primeira faixa, "Nâo Foi Cabral (Heavy Baile Remix)". É estranho abrir o material com um remix, mas a canção une vários universos nos seus quase 4 minutos: temos uma discussão política-histórica vestida com um som pesado e pronto para os bailes. É maravilhoso imaginar a força desse material tocando em várias festas.

Recebemos outras doses assim em mais duas músicas. A maravilhosa "100% Feminista", com Karol Conka, é dura e crua ao colocar com todas as letras como o feminismo deve fazer parte do cotidiano de todas as pessoas. O dueto vai mais além ao apontar discussões de como alguns atos de mulheres trazem um entendimento arraigado sobre o movimento social sem passar por discussões acadêmicas inacessíveis e, muitas vezes, classistas. Carol resume perfeitamente isso em dois versos: "Sou mulher independente não aceito opressão / Abaixa a sua voz, abaixa a sua mão".



Já em "Delação Premiada" somos presenteados com um recorte sonoro estilístico que busca entrevistas e reportagens de telejornais para denunciar como o racismo estrutural age. A funkeira canta sobre Amarildo, DG e violência contra os negros moradores das favelas do Brasil - adultos e crianças. Contudo, não é só com esses temas que vive o CD e ele também trata de outros assuntos.

Em "O Amor Acabou" ela canta sobre ter traído uma vez e feito o amante se apaixonar rapidamente. Já na letra de "Propaganda Enganosa" temos uma mulher se sentindo enganada porque o homem não correspondeu suas expectativas no sexo. São todas bastante inspiradas e divertidas, bem como "Prazer Amante do Seu Marido", mas essa nos deixa desconfortáveis com a contradição de xingar uma outra mulher tão tranquilamente e sem problemas.

Reinventando um pouco canções já conhecidas, no caso "A Vingança" e "Jorginho Me Empresta a 12" - a refação sonora dessa é ainda mais notável - o CD reafirma o movimento de MC Carol cantar sobre experiências próprias ou de pessoas próximas. Como for, essas duas canções poderiam ter sido regravadas, o que as deixaria com um ar de novidade ainda maior. Oportunidade jogada fora.

Bandida é uma obra que reforça todo o universo da cantora. Ao se mostrar um produto do contexto social da artista, ele contribui para difusão das dúvidas, angústias, prazeres e desamores da vida da MC. Temos aqui um CD que ajuda a validar o funk enquanto gênero com suas estruturas bem definidas e características marcantes - os instrumentos de sopro, as percussões fortes, uma aparelhagem quase onomatopeica, os sons de armas travadas/destravadas e tiros. É maravilhoso ver que toda a marcação estilística do funk, que também está presente no conteúdo lírico, ganha ainda mais força com a personalidade inconfundível de MC Carol e sua bandidagem.


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