Crítica: com a história de Maurício, “Justiça” discute a usabilidade das pessoas



Às sextas-feiras, Justiça trouxe a história de Maurício (Cauã Reymond), que foi preso por ter desligado os aparelhos de sua esposa. Após ser atropelada por Antenor (Antônio Calloni), Beatriz (Marjorie Estiano) fica tetraplégica e, nesse estado, pede que o marido faça a eutanásia. Depois de sete anos preso, Maurício busca se vingar do motorista que causou a tragédia. O problema é que o homem é um político famoso que concorre à Governador de Pernambuco.

No começo, a narrativa não foi muito movimentada e, por diversas vezes, a história serviu de pano para muitos outros personagens, como Mayara (Julia Dalavia). Depois de tentar matar Antenor, o ex-marido de Beatriz passa por um momento de desistência. Sua motivação parece facilmente perdida e não é muito bem tratada pelo roteiro, a ponto desse sentimento de resignação não ser passado de forma palpável. Somente quando conhece Vânia (Drica Moraes) ele cria outro plano de destruição.

Com a atuação voraz de Drica Moraes, a história ganha outro fôlego e começa a desenhar melhor o ponto em que deseja tocar. Maurício se aproveita da fragilidade de Vânia para desmascarar os vários esquemas de corrupção de Antenor. Depois disso feito, ele descarta a mulher que o ajudou de forma quase ingênua. São nesses capítulos que vemos a utilização de pessoas como ferramentas para atingir os objetivos, por mais parcos ou sérios que sejam. Antenor usa as prostitutas como objetos de prazer, Maurício usa Vânia como granada para explodir a carreira do político, ela, por sua vez, o usa como saída de um relacionamento abusivo e, com sua morte, acaba pagando o preço mais alto.

Do ponto de vista técnico, é impossível não perceber que a narrativa de Maurício não teve tanta força quanto as outras. Talvez por ser o último capítulo de toda semana, as pequenas pontas soltas que eram deixadas nos outros dias precisavam ser amarradas enquanto outros assuntos eram desenvolvidos. De todo modo, a minissérie ainda conseguiu tocar em uma questão fundamental quando começamos a investigar a justiça: os poderosos realmente são punidos? Talvez não por aparatos legais, mas a vivência humana nos leva a acreditar que existe algo de reativo nas decisões que tomamos: tudo o que fizermos vai nos afetar de algum modo.

Leia também o que achamos das histórias de Elisa, Fátima e Rose.
quedelicianegente.com