O violento “Romeu e Julieta” de Mykki Blanco e Woodkid no clipe “High School Never Ends”



A última semana está rendendo clipes tão bons, que já figuram entre os melhores de 2016 até agora. Tivemos James Blake com "I Need A Forest Fire", a banda O Terno com "Ai, Ai, Como eu me Iludo" e o Coldplay em "Up&Up". Agora podemos adicionar mais um à lista: "High School Never Ends".

A música pertence a Mykki Blanco, rapper que já apareceu por aqui em 2013, quando estava trabalhando com o EP Betty Rubble: The Initiation e seu nome era dito como um dos principais no efervescente movimento cultural/musical "queer rap".

No ano passado, Mykki revelou que faria um hiato em sua carreira musical para se tonar uma espécie de jornalista antropólogo. Mas, ao que parece, resolveu retornar à música e fez isso de modo grandioso: com uma parceria com o francês Woodkid, que produziu e co-compôs o que deve se tornar o primeiro single oficial de seu disco de estreia, ainda sem data de lançamento.

Como se essa dupla já não fosse talentosa o bastante, temos Matt Lambert dirigindo o vídeo da faixa. O diretor e fotógrafo tem por hábito trabalhar com o homoerótico, como na crítica "The Libertine" do Patrick Wolf; com a sexualidade, como nos fetiches de "Habitat" do Austra; ou trazendo a cultura LGBTQ em diferentes aspectos, como no quase cômico "My Offence" do Hercules & Love Affair.

"High School Never Ends" é um rap cheio orquestrações delicadas, contrastando com o ultraviolento curta que a canção recebeu. No vídeo, temos o amor proibido entre os personagens de Blanco e Tobias Kagelind. O primeiro mora numa espécie de república rural com gays, lésbicas e trans, enquanto o segundo é membro de uma gangue neo-nazista.

Esse amor aos moldes de Romeu e Julieta se desenvolve numa pequena vila no interior da Alemanha e levanta questões profundas que até ultrapassam a esfera da LBGTQfobia e também pincela a crise de refugiados na Europa. "Eu pensava que o continente era meu refúgio seguro contra a supremacia branca americana, o quão errado eu estava", disse o artista sobre o trabalho.

Catártico, político e urgente, o vídeo não fere apenas o comodismo europeu mas também o nosso. Sem dúvida, uma produção necessária para a data de hoje, o Dia Internacional Contra à Homofobia, Lesbofobia e Transfobia.


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