Papo: 30 segundos de “Do What U Want” já é suficiente pra mandar um “gente, calma!”

Todos sabem que "Do What U Want" é uma música repleta de particularidades. Tomando o lugar de "Venus" como segundo single oficial do ARTPOP de Lady Gaga, a canção é um feat. com R. Kelly, cantor envolvido em acusões de abuso sexual.

A música traz uma ambiguidade lírica óbvia com Gaga dizendo, ao mesmo tempo, que os meios midiáticos podem fazer o que quiser com sua imagem, mas nunca a diminuirão como artista, e também tem um teor sexual explícito no qual a moça canta que alguém pode ter seu corpo, porém nunca controlará seu coração.



Daí que Terry Richardson foi chamado para ser o diretor do clipe. Na mesma época, muitas acusações de abuso sexual contra ele começaram a ganhar espaço, culminando até em um abaixo-assinado que pedia que grandes empresas, como Vogue, não contratassem mais os serviços dele. Nesse cenário, as acusações de R. Kelly voltaram a ser lembradas e, bom, não ficaria nada bem para Lady Gaga ter um projeto que tivesse essas duas pessoas envolvidas.

Gaga e/ou a gravadora perceberam isso, cancelaram o lançamento do vídeo, lançaram um remix com Christina Aguilera que reforça o lado não-sexual da letra, tentaram salvar o bom recebimento que a música havia ganhado quando lançada, mas deixaram tudo de lado.

E agora, com 30 segundos do vídeo divulgados pelo TMZ, percebemos que entre tantas escolhas falhas dessa fase da cantora, não lançar "Do What U Want" pode ter sido uma das poucas decisões corretas. Na prévia, temos a cantora num bloco cirúrgico e Kelly é o médico. Quando ele diz "Parece que o remédio começou a fazer efeito", vemos uma Gaga desmaiada e muitas mulheres dançantes em volta dela. Depois, Germanotta está com um vestido feito de críticas enquanto dança em um lugar com várias reportagens que, de alguma forma, a denegriram.

São somente 30 segundos, mas eles causam algum desconforto em quem assiste. É importante dizer que não dá pra tirar uma conclusão somente com esses pedaços da prévia, mas nada disso nos impede de não gostar do que o clipe parece ser.

Parece que Gaga está no meio de muita safadeza enquanto está dopada. Parece que ninguém ali se importa com isso. Parece que "Do What U Want" faz apologia ao estupro. Nos desculpem todos os apoiadores da arte e da livre expressão (que costumam confundir tanto as coisas), mas isso já é um motivo bem forte para que fiquemos com o pé atrás com esse clipe. E, pronto, é isso.

Não tem nada a ver com liberdade sexual. Não faz muito sentido dizer que é a mesma discussão que, por exemplo, Miley causou com sua performance no VMA. O que está em foco aqui não é que o clipe mexe com o quesito sexo, mas sim porque ele basicamente parece estampar "olha esse abuso sexual". Existe todo um contexto na produção com os envolvidos que deve ser considerado.

Então, gente, calma. Ninguém tá decretando o fim da carreira de Lady Gaga. Fãs precisam ficar mais calmos e tentar olhar para as coisas de seus artistas não como perfeitas e imutáveis, porque nada é assim. Não se pode tentar defender alguém em todas as circunstâncias, ainda mais com apenas uma prévia de 30 segundos que pode parecer muita coisa, o que causa aversão ao modo como está explícito, como pode parecer nada. Como dissemos, tudo isso parece fazer sim uma apologia ao estupro e, por ser um assunto tão sério, já é suficiente para achar que, dessa vez, Gaga errou.

Quando "Do What U Want" sair, porque isso parece inevitável, podemos ter outro conversa sobre, mas por hora talvez seja melhor parar de achar que tudo é uma grande brincadeira pop e pensar no caráter problemático que esse vídeo pode ter.
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