Marina e a múltipla personalidade do álbum Electra Heart



Mesmo tendo esperado quase dois anos, desde que Marina and The Diamonds lançou seu debut, The Family Jewels, e mais alguns meses do início da transição a seu novo alter ego/personagem/cosplay, através de "Fear and Loathing" e "Radioactive", nas últimas semanas os little diamonds sofreram mais que o normal à espera do possível vazamento do disco Electra Heart
Após muitos leaks falsos e especulações acerca dos produtores envolvidos, a tracklist final conta, em sua maioria, com faixas produzidas por Greg Kurstin (além de a "abelha" do The Bird and the Bee e produtor de "Oh No!", já trabalhou com Sia, Little Boots, Neon Hitch e Kimbra) acompanhadas por outras de Rick Nowels (Lana Del Rey), Liam Howe (de praticamente todas "as jóias familiares") e apenas duas músicas por Dr. Luke e Cirkut, sendo uma co-produzida com Diplo.
Vendida? Nem tanto... Para os mais interessados em enxergar a obra como um todo, saibam que o toque de Marina transparece do começo ao fim, seja nos vocais característicos, ou na ironia lírica de suas loiras mitológicas americanas. O álbum toma forma numa verdadeira sessão terapêutica, onde a cantora divaga sobre seu já conhecido complexo de Hollywood. Por trás da direção de arte inspirada no filme Valley of the Dolls, a saga de Electra Heart enxerga distintas facetas femininas, que vão de momentos divertidos e espirituosos, às crises de personalidade e envolvimentos adúlteros. 
Além da mimada "Primadonna", encontramos logo de cara o atrevimento de "Bubblegum Bitch" onde, utilizando citações passageiras de "Soda Pop" e "Dear Diary" - antigas faixas pop chiclete de Britney Spears - anuncia por cima de um rock adolescente: "Oh dear diary, I met a boy / He made my dull heart light up with joy / Oh dear diary, we fell apart / Welcome to the life of Electra Heart". Esse tom irônico marca ainda outros momentos, como na lamentação pela rebeldia sem causa em "Teen Idle" ("Instead of being sixteen and burning up the bible / Feeling super super super suicidal") e na teoria feminista de "Sex, Yeah" ("Tired image of a star, acting naughtier than you really are").



A jornada de nossa heroína passa por altos e baixos: o controle e a força entram em foco nas dançantes "Homewrecker" e "Power & Control", enquanto a fragilidade e a desilusão fornecem versos para faixas como "Starring Role", "Lies" e "Fear and Loathing", cujo final me faz questionar se a personagem principal sobrevive à força de sua depressão ou se pula da sacada de seu hotel deixando a TV ligada.
Electra Heart é, sem dúvidas, um dos melhores álbuns de 2012 até agora - num empate técnico com Born To Die da Lana Del Rey - graças à mistura equilibrada entre o girl power dos anos 90, o pop chiclete, as tragédias gregas e o fascínio exercido pelo "sonho americano", enquanto suas letras ácidas e a sonoridade eletrônica a aproximam mais dos esforços pop de Alanis Morissette (em Flavors of Entanglement) e de Jewel (em 0304), do que de Katy Perry, com quem vem sendo precipitadamente comparada. Tampouco, peca na complexidade das melodias: contrariando a sensação geral dos hipsters de plantão de que pop signifique pasteurização e mecanicidade, os instrumentais e melodias estão muito além do puro e simples Dr. Lukismo (lembrem-se, apenas 2 faixas do álbum).
Outros destaques ficam para "Living Dead" - que ganhou um refrão com arranjos mais dinâmicos em sua versão finalizada - "The State of Dreaming", "Valley of the Dolls" e a bonus "Lonely Hearts Club" que, em geral, resumem o espírito da obra: um disco que pretende ser esperto em sua temática e, ainda assim, pop (sem recorrer à farofa e às mensagens de auto-ajuda das colegas de profissão).


www.quedelicianegente.com

20 comentários :

  1. Tenho aprendido a gostar de Marina assim como aprendi a gostar de comida japonesa. Tornou parte do meu cardápio a partir da 5ª refeição. 

    Concordo com a crítica ;).

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  2.  Amo Marina desde Family Jewels. Quando fiquei sabendo que ela passou para o eletrônico eu me desanimei um pouco, mas quando ouvi Radioactive, vi que mesmo dançante, as letras tem conteúdo, e nao perde a essência que só ela tem. Electra Heart e Born To Die são meus álbuns favoritos desse ano, e vou ressaltar também que música agitada nao é igual a farofa.
    Adorei o post <3

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  3. Tambem gostei muito da resenha. Electra e o trabalho q Marina faz desde The Family Jewels nao perdem o sentido por estarem "mais pop". Adoro o trabalho dela. Só faltou falar da maravilhosa "Buy The Stars" que pra mim é uma das melhores do álbum hauahua

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  4. Sem críticas ou comentários, para acrescentar.

    Você conseguiu me expressar no texto acima.
    Parabéns para este Blog!
    <3 o blog 

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  5. Marcos Vinícius Assunção2 de maio de 2012 às 15:07

    Electra Heart é simplesmente fabuloso! Ao lado de Born to Die, meus albuns favoritos esse ano. Já era fanático por The Family Jewels e concordo em tudo com a resenha. Marina não foi vendida, Marina está evoluindo. Considero os arranjos desse album melhores que os do primeiro, acompanhado de letras sempre muito profundas. Pra mim as melhores são Teen Idle, Buy the Stars e Fear and Loathing. 

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  6. "Electra Heart é, sem dúvidas, um dos melhores álbuns de 2012 até agora - num empate técnico com Born To Die da Lana Del Rey - graças à mistura equilibrada entre o girl power dos anos 90, o pop chiclete, as tragédias gregas e o fascínio exercido pelo "sonho americano"."

    exatamente isso, o único que gostei tanto até agora foi Born to die...

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  7. "Electra Heart" não é um alterego. Palavras da própria Marina.

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  8. Concordo com toda a crítica, mas eu acho que a nota devia ser maior rs

    E eu acho que Oh No! não foi o último single do Family Jewels... foi Shampain, a não ser que ela tenha lançado Shampain só na Europa.

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  9. é, é. http://youtu.be/FeR9MqCmVQQ é por aqui, lá pelos 20 min eu acho. mas o conceito é tããão complexo e tãão relativo que acaba não tendo outro jeito de chamar. vai chamar do que, né?

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  10. Foi isso mesmo, me confundi na hora de escrever... Oh No foi o primeiro single que eu ouvi dela, não o último a ser lançado. Já arrumei!

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  11. a-d-o-r-ei . Marina superou minhas expectativas,amei cada faixa do cd. O melhor álbum de 2012 até agora!

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  12. gostei bastante do Electra Heart. Mas prefiro o Born to Die pra melhor álbum desse ano, e ainda prefiro mil vezes o The Family Jewels do que qualquer um dos dois.

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  13. Simplesmente PHODASTICO, to viciado nesse album! As letras são profundas, a batida é boa! Muuuuuito bom!

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  14. Melhor album do ano , sem mais! The State of Dreaming é a perfeição em forma de musica *--*

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