Crítica: Ariana Grande parece saber aonde quer chegar com “Dangerous Woman”



Ariana Grande causou burburinho desde seu primeiro álbum e conseguiu fortalecer seu nome logo no segundo trabalho. Em Dangerous Woman, seu terceiro registro, a garota se firma como mulher e busca ares novos.

Com uma promoção inicial bem insegura, Grande escolheu o agora buzz-single "Focus" - que aparece na tracklist apenas da versão japonesa do CD - para testar seu público. Descaradamente copiando a mesma fórmula de outro hit seu, a música não caiu no gosto das pessoas, por mais que não fosse ruim. É só que ela não trazia nada de novo. Tudo mudou, para melhor, com o lançamento de "Dangerous Woman", o primeiro single do álbum homônimo.

A canção é poderosa e não tem medo de explorar sintetizadores, guitarras e uma letra explicitamente sensual. Ela traduz em perfeição o conceito do álbum, que mostra uma mulher que fala abertamente sobre os seus sentimentos mais profundos, sejam eles sobre confiança, amor ou sexo. O que fica estranho nisso é a inserção de "Moonlight" na tracklist. Esta abre o CD e remonta a uma Ariana que claramente não ganha espaço aqui. É como se a música tivesse entrado mais por um fator passional, afinal o projeto teria esse nome antes de apostar no título final.

Nesse sentido, podemos forçar uma aproximação com "Be Alright", que também é uma música leve. Mas esse single promocional ainda se destaca e se mostra adequada à tracklist principal, por passear por uma sonoridade noventista que também serve de inspiração para "Into You". Esta, porém, tem um tom mais dark com suas camadas e um lirismo bem descarado de sexy.



O álbum, inclusive, passeia por esse caminho diversas vezes. Ora puxa para um r&b que busca agressividade, ora vai experimentar outros sons e faz isso muito bem acompanhado. "Side To Side", com sua inspiração no reggae, tem Nicki Minaj para coroar Ariana como a voz jovem que comanda o pop contemporâneo. Já "Let Me Love You" conta com a célebre presença de Lil Wayne e é uma das que leva Ariana para mais perto de escolhas mais adultas na sonoridade da sua carreira. O mesmo acontece em "Everyday", que tem participação de Future, mas aqui ainda há a adição de um quê de eletrônico que deixa a música se destacar ainda mais.

Ainda nessa terra entre o clássico e o novo, somos presenteados com duas canções que se destacam desde a primeira vez que ouvimos o álbum. Fazendo a melhor sequência, "Greedy" e "Leave Me Lonely" não conseguiriam passar despercebidas mesmo se quisessem. A primeira é um funky que apareceria fácil nos charts de 2015 e a segunda uma ode ao r&b vintage, com a participação maravilhosa de Macy Gray.

"Sometimes" vai um pouco na mesma onda, mas com seu tom acústico consegue se distanciar e ser uma ótima maneira de começar a apresentar o fim da versão standard do álbum. Quem encerra de vez é "I Don't Care" que, como a música de abertura, também relembra uma Ariana que é anterior a este disco. Aqui, contudo, isso é feito de uma maneira mais consciente. É como se Grande conseguisse transformar suas apostas em uma marca autoral que começa a se registrar.

A versão deluxe ainda traz quatro músicas que, sejamos sinceros, conseguiriam muito bem fazer parte da tracklist principal. Os produtores poderiam ter aberto duas exceções ao menos para introduzir "Bad Decisions" com seu tom dançante e sassy e "Touch It" com seus sintetizadores pesados e letra direta. Em compensação, "Knew Better / Forever Boy" e "Thinking Bout You" são adições bem vindas também, mas ficam confortáveis sendo músicas de uma edição especial.

Dangerous Woman é um álbum que continua a evolução de Ariana, mesmo depois de um buzz single inicial que foi claramente um momento de dúvida. Felizmente, Grande decidiu seguir por um lado muito mais interessante ao apostar em sonoridades que a permitiram mostrar versatilidade e ao mesmo consciência de quem ela quer ser como artista. Se continuar nesse caminho de nos surpreender sempre pra melhor, vamos ser forçados a ressuscitar e atualizar memes velhos, porque estamos atórando o perigon da Ariana!


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