A pluralidade da sexualidade e da nudez: Conheça o projeto “Pelados em Flexões”



Quem acompanha o QDNG há alguns anos deve estar familiarizado com a seção Delícia. Como também deve ter reparado que, ultimamente, estivemos mais focados em falar sobre música, séries, filmes e fazer críticas.

E, sim, adoramos estas coisas.

Ainda assim, achamos necessário dar uma apimentada no site. Por isso, resolvemos começar a reviver a seção fazendo uma série de posts com uma galera que tem buscado novas formas de representar a nudez, sensualidade, sexualidade e até a pornografia.

Desta vez, ao invés de focarmos somente em celebridades com seus ensaios super produzidos para revistas e afins, vamos falar de projetos que retratam pessoas "normais" - que vistas de perto, não tem nada de comum.

Você pode acreditar nisso ou achar que é só uma desculpa para mostrar nudes. Talvez seja um pouco dos dois mesmo. Mas, te convidados a conferir por si próprio, clicando em "leia mais" e conhecendo o interessante Pelados em Flexões.

O ator André Medeiros Martins começou a fotografar pessoas peladas de maneira um tanto inusitada. Em 2009, após o falecimento de sua mãe, ele comprou uma máquina profissional e iniciou um processo de luto através da captação do nu.

Em 2011, ele lançou o livro Flexões - um estudo sobre sexualidade plural com os 70 primeiros ensaios, em uma época em que a exposição da nudez nas redes sociais ainda era um tanto tímida. Mas, foi somente após o término de um longo relacionamento que se sentiu pronto para "assumir o explícito", nas palavras do próprio, criando o Tumblr Pelados em Flexões. Mais uma prova de que um pé na bunda nos empurra para frente. Nem que seja para a frente de alguém pelado.

Para ilustrar o projeto, separamos algumas imagens, que podem ser conferidas na nossa galeria, fizemos uma entrevista com o André, na qual nos conta um pouco mais sobre seu trabalho e inquietações.









QDNG: De onde surgiu a ideia de explorar este nicho, envolvendo a sexualidade gay-masculina?

Pelados em Flexões: Sou um homem cisgênero, gay, branco, classe média. Minha formação é como ator e não como fotografo. Nasci no dia 1 de abril - dia da mentira, e tenho um profundo interesse nos limites da realidade e da ficção. Estas minhas características entraram em sincronia dentro deste campo da representação de aspectos da sexualidade. O que sempre quis foi criar provocações, que pudessem partir tanto de discussões intelectuais, como sensoriais, como quando produzo alguma imagem que produz excitação e participa da punheta de alguém.

QDNG: Tu tinhas decidido terminar o projeto em 2015, mas ele seguiu pelo Tumblr. O que te motivou a terminar e por que voltou atrás?

Pelados: O projeto, como tinha sido idealizado inicialmente, foi realmente finalizado neste período. O que publico hoje em dia são rascunhos de um projeto que desenvolvo sobre a queda do FALO que se transformará em um média-metragem e fotos extras do FEMINICES - que não posso publicar em outras redes por conter nudez total.

QDNG: O conteúdo pornô amador tem sido uma febre na internet, levando à falência muitas produtoras. Por que acha que o público tem despertado maior interesse por este tipo de produções, com pessoas "normais"?

Pelados: Nosso desejo é muito mais amplo. Nos era vendido que existiam únicos corpos possíveis a ser desejados. Quando a ideia do "nude" surgiu, foi disseminada uma inclusão maior de outros padrões. Nós transamos com paus tortos, barrigas flácidas, espinha na bunda, brochamos, rimos no meio, e muito das idealizações fabricadas pela industria sobre o prazer são falhos nisto. Somos "normais" e não tem por que consumirmos algo que não nos representa.

QDNG: Qual tem sido a resposta do público ao projeto? E como acredita que seja o entendimento sobre o mesmo?

Pelados: Quase todo os projetos que meu envolvo tem como objetivo primeiro o diálogo, que nem sempre precisa vir no formato do verbo. Mas o que crio contém sempre o desejo da comunicação. Então fico muito atento ao que é celebrado, o que é ignorado, os descontentamentos. Converso com muita gente, encontro presencialmente, e as reações são bem diversas. Pois o tema perpassa por muitos lugares, como já disse aqui, então não consigo de maneira sucinta dizer o que um cara da semiótica vê na imagem, o que um militante enxerga, o que um cara vê durante a punheta, ou que alguém da minha família diz. Mas sinto que provoca mobilizações a favor de ampliar a pluralidade.

QDNG: Quais são teus novos projetos? Existe um fio condutor entre eles? Partem de alguma inquietação tua ou mesmo de alguma coisa que queira discutir?

Pelados: Cansei da exacerbação do falo, não enquanto imagem explicita, mas como fonte central dos empoderamentos. Então estou criando estratégias para desconstruí-lo. Eu muitas vezes utilizo da minha imagem e das minhas histórias mais intimas como exemplos, porém não norteio todos os projetos em cima da minha trajetória. Eu produzo dispositivos que tentam identificar os nós, e os que me interessam agora, são aqueles que insistem em reproduzir opressão e não dão protagonismo a quem realmente precisa. Existem determinados perfis que não necessitam mais ser representados. Novidades estão em andamento.
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