Crítica: com a história de Elisa, “Justiça” apresenta os dados que o destino joga



Com a história apresentada nas segundas-feiras, protagonizada pela professora Elisa (Débora Bloch) e Vicente (Jesuíta Barbosa), seu ex-genro, a criadora Manuela Dias discutiu a primeira face da justiça que nos vem à cabeça quando pensamos no assunto: vingança.

A mãe de Isabela (Marina Ruy Barbosa) perde a filha porque o namorado da garota a encontra com outro homem. A partir daí, ela espera por sete anos para poder matá-lo. O que vemos é um desenrolar intenso entre a vontade de cumprir seu desejo, a aceitação das leis que regem o contrato social e o entendimento de como a vida pode nos levar para caminhos estranhos.

A professora desiste de matar Vicente quando vê a filha dele e isso acaba por contribuir que algumas linhas sejam cruzadas. A série trabalha de forma crua a dificuldade de Elisa de entender seu papel perante sua decisão. Ela não tem paz ao lembrar de Isabela e sente que Vicente é a única ligação que possui com sua filha.

Os dois então se aproximam: Elisa se torna madrinha da filha dele, ajuda o rapaz a desenvolver a tese de mestrado e ainda propõe orientá-lo caso ele consiga passar no processo seletivo. Tudo isso leva a uma transa, o ápice do envolvimento deles. O perdão que ele busca e a dor que a perda da menina causa na mãe se confundem em um emaranhado de sentimentos fortes demais para um ser humano aguentar sem quebrar de algum modo: luto, vingança, perdão, justiça.

Tudo se encerra quando a professora pega uma última carona com Vicente, após ter decidido se afastar dele. Um acidente acontece e o rapaz recebe a maior parte do impacto. Enquanto ele morre olhando para Elisa, ela disca para a emergência, mas não pede socorro. Se antes a mulher decide não sentir a culpa de matá-lo, agora ela aceita a opção que o destino apresenta: não salvá-lo.

Com a morte do rapaz, ela finalmente se sente em paz. O que Justiça faz brilhantemente é encaminhar, por essas escolhas de Elisa, que outra mãe comece a buscar vingança. Regina (Camila Márdila), a esposa de Vicente, de alguma forma sente que a professora é culpada pela morte do marido. A minissérie desenha esse arco com maestria e encadeia os acontecimento de forma fluida e mesmo assim inquietante. O roteiro coloca em curso um ciclo vicioso e, com isso, garante: todas as ações levam a reações e, por mais que tentemos fugir de algumas, nunca saberemos qual pode ser o resultado de nossas escolhas.

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