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Crítica: “Procurando Dory” não deixa nenhuma forte lembrança
Depois de 13 anos, a Pixar volta com os personagens do sucesso Procurando Nemo. Procurando Dory é uma sequência ao mesmo tempo em que não é. O filme utiliza personagens da história de quando Nemo foi para o outro lado do oceano, introduz novos e faz algumas ligações com o longa de origem. Dessa forma, é mais um spin-off do que uma sequência propriamente dita. Talvez por isso, não tem o brilho que poderia ter.
Tecnicamente, Procurando Dory mostra uma óbvia evolução da computação gráfica do estúdio. Aliada à Disney, a Pixar pôde crescer e investir ainda mais nas suas modelagens e tudo o que envolve seu CGI. O dinheiro que a empresa ganhou é visualmente revertido na qualidade gráfica de suas produções. Entretanto, por mais que seja louvável esse feito (por exemplo, o polvo Hank demorou dois anos para ser feito), ele não sustenta um filme. A história o faz. É aí que o longa peca.
A película não é ruim, longe disso, mas é apenas uma aventura. Não tem nada de mágico nessa narrativa, algo que a desprenda de tantos outros filmes infantis que são criados por diversos estúdios. Por mais que às vezes possa parecer um Discovery Channel para crianças, Procurando Dory só é realmente inteligente quando utiliza questões marinhas para avançar um pouco no desenvolvimento dos seus personagens, amarrando frouxamente questões como deficiência e aceitação para o público.
Enquanto Nemo (Hayden Rolence) virou um puro pré-adolescente, Dory (Ellen DeGeneres) continua a mesma. As melhores novidades ficam com Destiny (Kaitlin Olson) e Hank (Ed O'Neill). Enquanto a primeira é amiga de infância da personagem principal e protagoniza um diálogo em baleiês hilário, o segundo só pensa em si para depois mudar seu caráter ao longo dos minutos. O roteiro consegue lidar com seu número de personagens de uma boa maneira, mas também utiliza alguns apenas como tokens. É o exemplo das focas Fluke (Idris Elba), Rudder (Dominic West) e Gerald (Torbin Xan Bullock) que Marling (Albert Brooks) e Nemo encontram no seu caminho até Dory e, em partes, Bailey (Ty Burrell), a beluga amiga de Destiny.
Fora isso, o filme se constrói de maneira muito fácil e esperada. Dory sempre relembra partes de sua infância e são essas memórias que jogam o filme para a frente. Sim, a personagem sofre de perda de memória recente, mas irrita a maneira como o longa se apoia nesse dispositivo memorial para fazer a narrativa avançar. É interessante ver, ao final, como essa questão é tratada e deixa de ser apenas uma piada, mas mesmo isso não é feito de uma maneira sensível e edificante como a Pixar sabe fazer tão bem.
Há inúmeras oportunidades perdidas para inserir discussões grandiosas, mas duas que mais chamam a atenção são os questionamentos sobre família biológica versus família de consideração e novas configurações familiares, que poderiam ser facilmente instaurados ali. O roteiro tem uma potencialidade muito grande nessas questões e elas não são aproveitadas direito. Às vezes, dicas de tudo isso aparecem no filme, mas de uma forma tão básica e pequena que não conseguem crescer e, por fim, morrem na praia.
Durante o primeiro ato, Dory, quando criança, pergunta para seus pais: "Se eu esquecer de vocês, significa que vocês vão esquecer de mim?". Somente nessa fala já somos levados a esperar grandes feitos do longa, o que nunca vem. A verdade é que vamos lembrar de Procurando Dory apenas como um entretenimento infantil bonitinho que serve para passar o tempo e não por ser uma grande produção. A solução é continuar a nadar para, talvez, esbarrarmos em algo mais memorável.
www.quedelicianegente.com
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