Crítica: em “Conscious”, BROODS conta de forma invertida mais uma história de amor



Após dois anos do lançamento de seu debut, o BROODS, formado pelos irmãos Georgia e Caleb marido compartilhado da equipe do blog Nott, nos entrega Conscious, seu segundo registro. Como o nome sugere, parece que os artistas sabiam exatamente o que queriam atingir com o trabalho.

Desde o primeiro single, "Free", que também abre o álbum, o duo trabalhou com os sintetizadores de uma forma mais pop e radiofônica. Esse movimento aparece em outras faixas, mas o que mais chama atenção nesse long play - depois de ouvirmos algumas boas vezes - é como a narrativa parece ser construída do final para o início. Uma óptica inversa que ganha corpo na capa do material.

Para abrir Conscious, os irmãos apresentam uma letra que deixa bem claro que um relacionamento acabou e agora uma das partes se sente livre. Logo após, em "We Had Everything", somos recebidos com uma versão indie-pop dos sintetizadores do final dos anos 80, algo já explorado abertamente no mainstream. Aqui Georgia lembra por que o relacionamento não vingou. Então no breguinha e gostoso som sintetizado de "Are You Home" entendemos que tudo pode ter acabado por causa de uma traição. Tecnicamente a música poderia ter uma sonoridade mais ascendente, mas de qualquer modo entrega muito bem a próxima canção.

"Heartlines", co-composta pela Lorde, tem uma atmosfera espacial tão sutil ao fundo que apenas ambienta nossos ouvidos. Enquanto os sintetizadores deixam de ser protagonistas para virarem coadjuvantes, Georgia passa por aquele momento em que sabemos que as coisas com a pessoa que você ama parecem estar estranhas, mas mesmo assim ainda a queremos por perto. É em "Hold The Line", um dos destaques do álbum, que somos levados um pouco mais pro início dessa relação. As notas esticadas e costuradas com distorções vocais reinauguram a força dos anos 80 no registro.



Para voltarmos nesse relacionamento que não deu certo, "Freak Of Nature" conta com a ajuda de Tove Lo para falar sobre as dúvidas individuais que enfrentamos. Será que as coisas parecem confusas nessa relação por que alguém já estava quebrado antes de tudo começar? O piano dita o tom da música, que cresce gradativamente, e esse instrumento vira um lindo teclado em "All Of Your Glory", balada que conversa tão bem com a anterior que parece até mesmo uma hidden track. Contudo a verdade é que, mesmo que sensível, a música só funciona porque está no meio da tracklist, já que, de tão despida melodicamente, poderia passar despercebida.

Mas então recebemos "Recovery", o synthpop mais upbeat do álbum e é extremamente poderoso. A canção fala sobre como essas duas pessoas não são o melhor par, mas, de alguma maneira, esperam que consigam ajudar um ao outro. Além de uma cegueira relacionável, a música conquista por ser inteligentemente pop em suas repetições - ainda mais do que em "Hold The Line" - e encher o ar com pequenas percussões maravilhosas. "Couldn't Believe" inaugura a parte em que a narrativa desse relacionamento ainda era só flores. Com seu piano e sintetizadores do início dos anos 80, não é uma música tão chamativa. Ela ainda consegue ser abafada por "Full Blown Love", que parece fraca, mas tem quebras melódicas fofas e que não precisa de muito para te fisgar.

"Worth The Fight" e "Bedroom Door" não acompanham muito bem o que foi apresentado na primeira metade do álbum. Enquanto a primeira parece perdida com seus altos e baixos na construção de sua melodia, a segunda traz um BROODS fazendo exatamente o que já conhecíamos dele e que não precisava ter espaço nessa nova produção. De toda forma, suas letras conseguem desenhar claramente o começo de um amor tão dependente e companheiro que não esperava ver seu fim chegar.

Em toda essa história recheada de uma sonoridade oitentista, "Conscious", a música, funciona como um prólogo invertido. Com um refrão explosivo e distorções repetitivas, a canção termina o álbum no ápice. Fechando o ciclo de uma maneira louvável, tudo termina com o pedido de ajuda de uma mente que quer se libertar de um amor que começou bom, mas não fez bem com o passar do tempo. Durante essa trajetória, os neozelandeses contam a história de alguém que duvidou de si mesmo e percebeu que às vezes deixamos passar sinais claros que nos mandam encerrar nossas relações.

Enquanto uma voz pede, repetidamente, "wake me up and keep me conscious" somos forçados a nos lembrar dos primeiros versos que iniciam todo esse percurso: "I'd lose everything so I can sing / Hallelujah, I'm free". Só somos realmente livres para seguir em frente quando nossa consciência nos permite.


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