Crítica: “X-Men: Apocalipse” entrega uma história consistente dos mutantes



Depois de uma reintrodução praticamente infalível em X-Men: Primeira Classe e um reboot dentro da linha narrativa estabelecida em X-Men: Dias De Um Futuro Esquecido, Bryan Singer volta mais uma vez e nos entrega uma clássica história dos mutantes da Marvel em X-Men: Apocalipse. O filme tinha como uma das missões voltar com os personagens clássicos e, por isso, permaneceu muito tempo em uma área cinza na cabeça dos fãs e admiradores.

Seguindo uma estratégia de marketing parecida com a dos anteriores, parte dos materiais de divulgação pareciam não mostrar tanto potencial, enquanto alguns eram extremamente bem pensados e outros eram apenas bregas. De uma maneira ou de outra, talvez isso tenha contribuído com o resultado do filme, já que um dos maiores sentimentos do público era o de não saber o que esperar exatamente.

Colocar no elenco pessoas novas para interpretar personagens já consagrados não era uma tarefa fácil. Fazer isso seguido de outros longas que deram um tempo de tela enorme para o desenvolvimento de Mística (Jennifer Lawrence), Magneto (Michael Fassbender) e Professor Xavier (Jamex McAvoy) parecia algo ainda mais complicado. Felizmente, o resultado é melhor do que se poderia esperar.



A Fox mostrou que sabe a força que Lawrence tem como atriz hollywoodiana, mas aprendeu a não fazer tudo ser sobre ela. Se nos trailers isso não ficava claro, nas quase duas horas e meia de reprodução temos uma bela distribuição de peso entre os personagens heroicos. Os agora veteranos McAvoy, Fassbender e Nicholas Hoult - que interpreta o Fera - demonstram que entendem seus papéis perfeitamente e o desenvolvimento de seus personagens já foi feito em outros longas. Em X-Men: Apocalipse, quem puxa o peso do protagonismo para si é justamente quem precisava: Jean Grey (Sophie Turner) e Cyclops/Scott Summers (Tye Sheridan).

Tudo sobre esses dois personagens é bem pautado. O medo e a posterior leveza de Scott com seus poderes, o afastamento e grandiosidade das habilidades de Jean, a química entre os dois personagens, tudo está ali, de maneira bastante orgânica. Claro, isso não vem sem custos, que aqui se traduzem em uma montagem inicial muito básica e por vezes cansativa. O primeiro ato do filme, inclusive, parece grande demais. É compreensível esse movimento quando se tem muitos personagens em tela, mas o time por trás disso poderia ter se esforçado para dar agilidade para a trama desde o começo e não somente na conclusão.

Enquanto Jean e Scott ganham a tela e reconquistam nossos corações, os personagens vilanescos não têm a mesma sorte. Nesse contexto, gostamos muito mais de Tempestade pela atuação centrada de Alexandra Shipp e porque já conhecemos Ororo de outras eras do que pelo que o roteiro nos mostra dela. Exceto Magneto, todos os cavaleiros do vilão Apocalipse (Oscar Isacc) são um pouco mal aproveitados. A história não presta tanta atenção a eles e Psylocke (Olivia Munn) e Anjo (Ben Hardy) viram apenas soldados/armas em uma guerra que nem é tão grandiosa quanto poderia ser.

O próprio vilão que dá nome ao filme não tem seu potencial tão bem explorado. Com uma cena introdutória bem escrita, Apocalipse também só tem força por causa da atuação viva de Oscar Isaac. Se não fosse o rapaz e a centralidade que as linhas gerais do roteiro depositam no personagem, tudo poderia ter passado despercebido. Isso acontece um pouco também com alguns dos coadjuvantes como Noturno (Kodi Smit-McPhee) e mesmo Mercúrio (Evan Peters). Eles são bem usados, mas estão ali apenas para serem peças de uma história posterior. Ou seja, terão chance brilhar mais em outros filmes (como Psylocke, o que fica claro ao final da produção), mas poderiam ter ganhado mais do que os foi dado. Nesse contexto, os fanservices de Jubileu (Lana Condor) e Wolverine (Hugh Jackman) até empolgam mais.

X-Men: Apocalipse entrega mais do que parece ter capacidade e fica claro que isso acontece pela escolha certeira do elenco. O roteiro não é ruim, longe disso, mas não empurra a história até onde ela poderia ir. Isso acaba por deixar um sentimento de que tinha muito mais a ser explorado dos vilões. De qualquer maneira, ganhamos novamente a companhia de um grupo de mutantes formados por personagens já queridos. A cena final com Mística conduzindo os X-Men na sala de treinamento empolga fácil todos aqueles que amam as histórias já consagradas.

Antes ainda, o filme deixa em aberto a possibilidade de explorar novamente a saga da Fênix Negra. Faria sentido. Se pensarmos que eventos do futuro sempre dão um jeito de acontecer mesmo quando mudamos o passado, poderemos finalmente ganhar a grandiloquência que essa história em específico merece. Se isso não acontecer, de todo modo temos a certeza de que mais histórias com os mutantes virão, e sabemos que os personagens que tantas pessoas amam finalmente foram colocados no trilho novamente.


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