Pronto, estreou. Depois de quase um ano e meio desde o primeiro, chegou ontem aos cinemas brasileiros (antes do mundo todo, aliás)
Jogos Vorazes: Em Chamas, baseado no segundo livro da série literária escrita por Suzanne Collins.
Nesse capítulo, Katniss (Jennifer Lawrence) e Peeta (Josh Hutcherson) participam novamente dos Jogos Vorazes, numa edição chamada Massacre Quaternário, ocorrida a cada 25 anos. Agora há um
plus de brutalidade, que, na ocasião, cai como uma luva afim de controlar a iminente revolução. Nesta edição, os competidores serão os próprios vencedores das edições passadas.
E é nesse ritmo de mais violência que a troca de diretor se mostra tranquila. Ninguém precisa se preocupar com a direção de Francis Lawrence. O responsável por
Constantine decidiu dar um pouco mais de crueza à saga, o que é muito bem-vindo. Tendo como auxílio a fotografia de Jo Willems, com tons menos saturados nos cinzentos distritos e até mesmo na Capital, ainda colorida, mas não mais tão vibrante como antes. Assim como na arena, que mesmo uma selva tropical, consegue ser extremamente sombria.
No mesmo contexto, a atuação de Lawrence se ressalta. A atriz consegue demonstrar as nuances e confusões emocionais - que variam entre a insanidade, medo, paixão e até humor - de sua personagem, que não é boa em demonstrar emoções, sem esforço algum. Infelizmente o mesmo não acontece com os demais membros do trio principal, Liam Hemsworth e Josh Hutcherson, embora visivelmente melhores que na primeira película. Esse último, aliás, parece que às vezes esquece por uns dois segundos a expressão que fazia e o que seu personagem deveria sentir.
Mas, por outro lado, vem equilíbrio dos coadjuvantes, que mesmo com menos espaço em cena, brilham quando aparecem. Os veteranos se mostram mais uma vez impecáveis. Woody Harrelson, por exemplo, como Haymitch, em raros momentos de alívios cômicos. Além da incrível adição de Philip Seymour Hoffman, que traz à vida um calculista Plutarch, quase um paralelo para uma Effie (Elizabeth Banks) e Presidente Snow (Donald Sutherland) mais humanizados - a primeira por demonstrar emoções além da aparente futilidade, e o segundo pelas fragilidades vindas da doença e inclusão da família.
Os atores mais novos também têm seu destaque com Sam Claflin que põe um fim, já na primeira vez em que aparece, nas dúvidas de que seria um bom Finnick. Além de, principalmente, Jena Malone que faz com que todas as atenções se virem à sua Johanna ácida, irônica e impossível de não gostar, exatamente como devia ser.
Com a revolução pipocando em todos os lados,
Em Chamas trabalha extremamente bem com o simbolismo que nos cerca diariamente (ok, talvez isso seja só uma visão minha como estudante de comunicação). O roteiro caminha, todo momento, para demonstrar o paradigma de o quão forte Katniss é como símbolo de esperança, mas impotente como indivíduo perante ao sistema. Aqui, ameaças, discursos inflados proibidos, a dor de se tornar o mártir, gestos da multidão repreendidos à força e vestidos de casamento que se transformam em tordo, são faíscas para nos tirar um pouco daquele mundo fictício.
No finalzinho do longa, porém, temos cenas que poderiam ter sido evitadas. Era a hora de Francis Lawrence ter dado mais asas à sua liberdade criativa e carregado um pouco mais de drama no encerramento. Além disso, a inserção do tordo abrindo as asas, por mais que faça paralelo e introduza ao símbolo da revolução, parece deslocada e, não vamos negar, um tiquinho brega.
A verdade é que temos em mãos uma bela história, que encontra sua transição para as telas de forma confortável e certeira.
Jogos Vorazes: Em Chamas é a hora em que a jovenzinha de 13 anos (e a gente também, rs) deve ir ao cinema, se encantar com a cultura do blockbuster e, ao mesmo tempo, se permitir questionamentos políticos da sociedade em que vivemos (e ainda sobra tempo pra gente amar as curvas de Sam Claflin).
quedelicianegente.com