Nota: Esta crítica contém alguns spoilers moderados!
Finalmente um dos filmes mais esperados do ano fez sua estreia no Brasil. Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge vem para dar um ponto final ao reboot inicializado em 2005 por Christopher Nolan, em Batman Begins.
O filme se passa oito anos após os acontecimentos de Batman - O Cavaleiro das Trevas. Depois da morte de Harvey Dent (Aaron Eckhart), o Comissário Gordon (Gary Oldman) e Batman (Christian Bale) decidem responsabilizar o herói pela tragédia. Assim, o milionário Bruce Wayne se enclausura em sua mansão, enquanto Gotham passa por um momento de paz. É para trazer a destruição iminente à cidade que surge o vilão Bane (Tom Hardy).
Christian Bale (Bruce Wayne/Batman) e Tom Hardy (Bane)
O longa metragem é de uma grandiosidade imensa! O filme é um conglomerado de acertos de todos os envolvidos em sua produção. Figurinistas, designers, sonoplastas, coreógrafos, todos levam uma boa fatia do sucesso. Christian Bale nos entrega toda a humanidade do herói sem superpoderes. É de uma verdade gutural a dor física e emocional que Bruce Wayne, mais presente que a persona Batman, sente. Sua decadência, no primeiro arco do filme, é de dar dó. Que o diga então as cenas em que o personagem é enviado para "o inferno da Terra".
Tom Hardy é outro gigante. Bane está aqui para destruir completamente Gotham City. E palmas e mais palmas para Hardy que, com uma máscara a todo momento, entrega sua atuação, praticamente, na voz. Os problemas resolvidos na pós-produção não tiram seu mérito de carregar desprezo, frieza, ironia e instigar dúvida, basicamente, com as cordas vocais. Sua atuação é tão boa que algumas de suas melhores cenas são seus discursos; aquele que é dado antes de abrir a penitenciária Blackgate e o da sequência de destruição do campo de futebol (adicionar a frase "That’s a lovely voice" nesse meio).
Anne Hathaway (Selina Kyle/Mulher Gato), Marion Cotillard (Miranda Tate), Joseh Gordon-Levitt (John Blake), Morgan Freeman (Lucius Fox), Gary Oldman (Comissário Gordon) e Michael Kane (Alfred)
Anne Hathaway como Selina Kyle também é outra maravilha. Suas primeiras cenas mostram o quanto a atriz construiu, à sua maneira, uma Mulher Gato ágil. Boa moça em um momento, bad girl em outro; responsável por começar um tiroteio e, em um estalo, mais uma vítima no fogo cruzado.
"Miau", infelizmente, não tem, mas Anne solta um "oops" bastante delicioso. Marion Cotillard (Miranda Tate), por outro lado, está ok na pele da ambientalista milionária. Um pouco mais de presença da atriz seria muito bem-vinda... Se bem que isso até faz sentido, pra deixar o seu desfecho mais "inesperado"...
Joseph Gordon-Levitt entra como o policial John Blake. Esse personagem foi criado para essa trilogia. Joseph faz cara de macho e desempenha suas cenas de ação com bastante convicção. Morgan Freeman (Lucius Fox) e Gary Oldman estão novamente impecáveis. Michael Caine (Alfred), então, é o responsável por te levar às lágrimas. E, no mínimo, duas vezes! Sua atuação como o guardião de Bruce, em poucas cenas, ascende e atinge seu máximo.
O diretor, Christopher Nolan
Agora ele. Ele que fez tudo isso possível. Christopher Nolan vai ser venerado por gerações. Mesmo com alguns deslizes (como Wayne, sem dinheiro algum, conseguiu chegar até Gotham? Como ele entrou em uma Gotham totalmente cercada e ainda fez a barba?), o diretor entrega uma franquia verdadeiramente espetacular. Sua direção é de uma concisão enorme. Ângulos de cenas-chaves são quase idênticos aos aplicados nos capítulos anteriores. A determinação em manter tudo cru está presente em cada take. A decisão de Bane quebrar a coluna de Batman sem nenhuma trilha sonora mostra o nível de realidade que ele sempre desejou atingir. Isso tudo acoplado ao teor filosófico utilizado no roteiro. Tratar metaforicamente de assuntos como a deturpação de uma forma de governo, mentiras sinceras, falsas esperanças e renegação em um "mero filme de ação" exige muita coragem de um diretor.
Em um final que se inspira levemente em A Origem, o diretor deixa uma pergunta no ar. É claro que a resposta pende para um lado óbvio, mas isso não diminui o impacto da indagação. Ao inserir seu Robin John Blake, que não existe nas HQs, o diretor homenageia todos os fãs, deixa uma ponta divina que pode se desenvolver de N maneiras e ainda aumenta o universo do vigilante mascarado. Christopher encerra por aqui sua missão. Com uma maestria extraordinária, Nolan elevou Batman ao mito de Cavaleiro das Trevas.
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