Harry Potter 7.1: Um começo do fim digno

Só assisti Harry Potter e as Relíquias da Morte hoje, pois trabalho, estudo, tenho professores que marcam provas de Sociologia da Comunicação para sexta-feira, e dependo de ônibus que passam com a mesma frequência que o cometa Halley... Mas todos esses problemas cotidianos são esquecidos quando o logotipo estilizado da Warner Bros. aparece na tela do cinema. É uma sensação indescritível de escapismo e familiaridade, que felizmente e infelizmente, ao mesmo tempo, está chegando ao fim.
Como essa crítica chega um pouco atrasada, que tal fazer diferente? Vamos usar como guia três afirmações sobre o filme, feitas em várias críticas da imprensa especializada.

# É um filme cansativo e parado.
Mentira. O que acontece é que, como sabem, a história do livro foi dividido em dois filmes. Tudo bem que o motivo principal motivo dessa divisão é ganhar mais dinheiro, mas no fim, isso é ótimo. Pela primeira vez na série, não há pressa de chegar no climax (que não há), não há lacunas e soluções duvidosas, a fim de encurtar a película nos padrões comerciais. Dá tempo das coisas acontecerem ao seu devido tempo.
Mesmo nas cenas ditas mais cansativas são dotadas de uma carga dramática tão grande, que a tensão faz com que passem rapidamente. Numa dessas passagens, onde é mostrado o trio acampando em vários locais do Reino Unido, há a locução de uma lista das pessoas mortas pelos ataques dos comensais que é, no mínimo, comovente, e dota o filme de um realismo cruel (mesmo sendo sobre magia).

# É um filme feito exclusivamente para fãs.
Meia-verdade. Vi até comparações com Watchmen, dizendo que o diretor, David Yates não se preocupou em fazer um filme comercial, e sim em agradar aos fãs. Não que isso fosse algo ruim, mas vi muita gente que não é fã, inclusive minhas companhias, curtindo muito. O que acontece é que não dá pra não ter lido os livros, ou pelo menos ter visto todos os filmes, e chegar no 7º achando que vai entender tudo. Não adianta, cada filme do Harry Potter não é uma diversão isolada, é necessário ter toda uma noção de contexto. Sempre foi assim.

# É o melhor filme da série.
Verdade, praticamente em todos os sentidos, menos direção de arte (onde o Prisioneiro de Azkaban ainda ganha). O já citado timing traz o melhor roteiro. Mas ainda podemos citar a fotografia (uma variação que vai da explosão de cores ao dark), a trilha sonora (e a ausência dela em várias cenas) de Alexandre Desplat que dão um novo ritmo ao filme, a edição impecável, enquadramento de câmeras e tantos outros quesitos.
Há cenas de uma perfeição técnica absurda, como a perseguição aos 7 Potters, ou a invasão do Ministério da Magia.
Um outro ótimo motivo de ser o melhor da série é que não há medo de mostrar a história como ela é, não temendo a classificação que o filme receberia. Há terror, há muito sangue, há tortura, há mortes (compre lenços de papel), há conotações sexuais diretas, há até referenciais visuais ao nazismo, para ilustrar o preconceito aos nascidos trouxas.

Enfim, não adianta negar, Harry Potter já entrou para história da literatura e cinema contemporâneos. E esse começo do fim veio para fechar tudo com chave de ouro. O único problema é que ele acaba, num momento anti-climax, que nos faz ter sentimentos paradoxais, de necessidade imediata de ver a 2ª parte, e ao mesmo tempo, querendo que o dia nunca chegue. Mas quando o dia chegar, não se preocupe, pois pode ter certeza que a sensação não será a mesma do final de Lost. Nós crescemos com Harry Potter. Nós somos o fenômeno Harry Potter. E Relíquias da Morte - Parte 1 nos mostra que a saga terá a conclusão digna que merecemos. Então, não haverá sentimentos de perda, afinal, sempre que tivermos vontade, podemos revisitar essa realidade de fantasia relendo os livros ou revendo os filmes. Coisa que a gente só faz com clássicos. Algo que Harry Potter provou ser.

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